Coronavírus: Bolívia adia eleições nacionais e enfrenta o primeiro dia quarentena total

Logo após a presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, anunciar que o país entraria em quarentena total a partir desde domingo (22), o presidente do Tribunal Supremo Eleitoral, Salvador Romero, anunciou que as eleições nacionais de 3 de maio serão adiadas.

A presidente interina da presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, disse que "a quarentena é uma decisão dura, mas necessária para o bem de todos". RONALDO SCHEMIDT / AFP
"O Tribunal Supremo Eleitoral reitera a sua vontade de prosseguir com o diálogo amplo e plural com todas as forças políticas para definirmos uma nova data para a jornada de votação das eleições gerais de 2020", anunciou o presidente do TSE boliviano, Salvador Romero, confirmando que "na próxima segunda-feira (23), haverá uma reunião com os partidos políticos que poderá ser de maneira virtual" para abordarem uma nova data para as eleições nacionais de 3 de maio.

O adiamento do pleito veio logo após a presidente interina, Jeanine Ánez, anunciar uma quarentena total no país a partir da zero hora deste domingo, como medida para conter a pandemia no país que, por enquanto, registra 19 casos e que tem um frágil sistema de Saúde. "É uma decisão dura, mas necessária para o bem de todos", anunciou Áñez no Palácio Quemado, sede do Governo boliviano.

As eleições gerais de 3 de maio elegeriam presidente e vice, além de 36 senadores e 120 deputados.

Perde e ganha eleitoral

Com o adiamento, a Bolívia prolonga a sua incerteza política e os mandatos que originalmente venceram no dia 22 de janeiro sem que o país tivesse eleitos para substituir os atuais. O adiamento é um forte exemplo de como o coronavírus altera a agenda na América do Sul.

"Agora, como efeito cascata, adiar as eleições gerais obrigará a adiar também as eleições municipais marcadas para dezembro. Os prefeitos já estão com os mandatos vencidos à espera de uma definição das eleições nacionais", sublinha à RFI o analista político boliviano, Raúl Peñaranda.

Para além dessa primeira consequência, quais são os ganhadores e quais são os perdedores numa corrida eleitoral? Segundo as sondagens, a disputa é liderada pelo candidato do ex-presidente Evo Morales, o ex-ministro da Economia, Luis Arce. Porém, embora o candidato da esquerda lidere a corrida no primeiro turno, perderia num segundo turno para o candidato da centro-esquerda, o ex-presidente Carlos Mesa, ou para a atual presidente de direita, Jeanine Áñez, também candidata.

Para Raúl Peñaranda, com o adiamento, Jeanine Ánez tem a chance de construir uma forte liderança, mas também arrisca perder capital político. "A presidente interina ganha porque é o foco de atenção. Ela ganha em exposição e mostra-se como quem toma as decisões sobre o assunto. Mas poderia sair prejudicada se as coisas saírem do controle. Um país pobre como a Bolívia terá graves problemas na área de saúde", adverte Peñaranda.

Na outra ponta, o Movimento Ao Socialismo (MAS), partido de Evo Morales, é o único que discorda com um adiamento das eleições. Para adiar o pleito, será preciso uma lei que deverá sair de um Parlamento dominado pelo MAS tanto na Câmara de Deputados quanto no Senado. O partido de Morales, refugiado na Argentina, exige que a data se mantenha.

"O MAS, que tem maioria parlamentar, não está de acordo com o adiamento porque tem a ideia de que, se o país se descontrolar com o coronavírus e houver uma crise social e sanitária, isso seria vantajoso para os interesses políticos e eleitoral do MAS, hoje na oposição", aponta Peñaranda.

Num pronunciamento em fevereiro de 2019, o então presidente Evo Morales, criticado pela falta de construção de hospitais, disse que "entregar um campo esportivo é como entregar um hospital" porque "o esporte é saúde". Com o avanço do coronavírus, o vídeo desse pronunciamento passou a circular novamente pelas redes sociais na Bolívia.

"Também não convém ao MAS recordarem que, depois de 14 anos de governo de Evo Morales, a situação da Saúde na Bolívia é péssima", pondera Raúl Peñaranda.

Quarentena total

Evo Morales deixou o país em 12 de novembro, após renunciar à Presidência em meio a uma convulsão social, resultante de três semanas de protestos e greves. Depois de constatada fraude nas eleições de 20 de outubro pela Organização dos Estados Americanos, auditora do processo eleitoral, Morales perdeu o apoio dos sindicatos, da Igreja e das Forças Armadas, pondo fim a um quarto mandato, depois de 14 anos de governo.

A quarentena na Bolívia, que vai durar pelo menos duas semanas, implica que mercados e centros de abastecimento funcionem apenas até o meio-dia. Somente uma pessoa por família poderá sair de casa para as compras. Também poderá sair quem precisar de atendimento médico.

Farmácias, hospitais e bancos continuarão a funcionar, assim como empresas produtoras de alimentos básicos e medicamentos. "Nosso primeiro inimigo é o vírus e o segundo é o pânico. Vamos frear os dois com união e com serenidade", pediu Áñez.

Na sexta-feira (20), já tinham sido fechadas as fronteiras em toda a Bolívia. No sábado, foram proibidas todas as viagens interurbanas e os aeroportos pararam de operar. Rege no país um toque de recolher entre as 17 e as 5 horas.

Desde a eclosão do coronavírus na região, o governo já tinha anunciado a proibição de reuniões com mais de mil pessoas e os principais candidatos anunciaram que não fariam mais comícios.

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