Médico francês em Wuhan afirma que europeus “subestimaram” expansão do coronavírus

Especialistas francês baseado em Wuhan, berço da pandemia da Covid-19, o médico Philippe Klein acompanhou de perto a evolução da doença. Diante de sua experiência com o combate à doença, ele critica o comportamento dos europeus, e particularmente dos franceses, diante da propagação rápida do novo coronavírus. Na França, um grupo de médicos e profissionais de saúde lançou um apelo para serem respeitados o confinamento diante da saturação dos hospitais e centros de saúde.

Médicos na França alertaram o governo francês de que é preciso reforçar as medidas de confinamento da população diante da crise da Covid-19. SEBASTIEN BOZON / AFP


“Houve um fenômeno de negação, simplesmente, de auto-confiança”, disse Klein quando questionado pela radio France Inter se a Europa teria pecado por arrogância diante da crise do coronavírus. Ele lamentou ainda a aplicação de medidas de confinamento apenas para os passageiros vindos da China, no início da pandemia no continente.

“Ouvi o que os especialistas disseram [há algumas semanas] e subestimamos o perigo, dizendo que, se isso acontecesse, estaríamos suficientemente preparados, que temos um sistema de saúde extraordinário ... Mas foram apenas palavras, não houve atos ", deplora.

Desde o dia 18 de março, a Europa passou a China em número de mortes provocadas pelo novo coronavírus. Na ocasião, os países europeus registraram juntos mais de 4 mil vitimas contra 3,2 mil no território chinês.

O confinamento total adotado pelos chineses para Wuhan e a província de Hubei, com o controle estrito dos casos mais graves, é apontado como uma das medidas eficazes para ter limitado a propagação da Covid-19 no território.

O exemplo chinês

Na entrevista à France Inter, Philippe Klein lembrou de sua experiência em Wuhan e estima que a França deve “aplicar as mesmas medidas eficazes que os chineses aplicaram, desde meados de fevereiro, e endurecer as medidas de confinamento”.  

O especialista insistiu nos riscos do comportamento de muitos compatriotas que não teriam consciência da situação: “Os franceses continuam se cumprimentando! Uma pessoa com os sintomas que sai de seu apartamento, aperta o botão de um elevador, toca a maçaneta de uma porta do prédio, pode contaminar outras pessoas”, lembra o especialista.  

Na França, o presidente Emmanuel Macron anunciou o confinamento parcial a partir do dia 17 de março e as autoridades avaliam tornar ainda mais rígidos os deslocamentos e consultam especialistas para avaliar a necessidade de um confinamento total.

Philippe Klein, que relatou ter ficado dois meses sem ver sua esposa e seus filhos devido ao confinamento total adotado pelo governo chinês, defende a medida: “quando a população entende o que está em jogo, a dimensão do desafio, ela adere. Mas isso só acontece com uma explicação clara dos motivos, para poder ter uma adesão total. Sempre há uma parte da população que não querer entender, mas neste caso, temos meios para controlar”, garante.

O médico francês diz que o problema supera questões individuais: “Sim, 80% das pessoas vão superar e é extraordinário, mas quais serão as consequências econômicas se durar muito tempo?”

Apelo da classe médica a Macron

Na segunda-feira (23), um grupo de médicos e profissionais de saúde encaminharam uma carta ao presidente Emmanuel Macron como um “grito de alerta” para reforçar o pedido de que a população francesa se mantenha confinada em casa.

Assinada por 573 pessoas representando mais de 60 mil médicos e profissionais de saúde trabalhando em hospitais, a carta pede um respeito estrito das medidas de confinamento, acompanhada de uma comunicação mais explícita.

Um dos signatários da carta, ouvido pelo jornal Le Parisien, afirma que o confinamento é mais ou menos respeitado em Paris, mas praticamente ignorado nas periferias da capital e no interior do país.

No texto, os profissionais lembram que a França tem quatro vezes menos leitos de reanimação que a vizinha Alemanha e ficar em casa é a única maneira de “fechar a torneira” e impedir a contaminação entre as pessoas. “Ainda não estamos no pico da epidemia e não queremos ter que escolher os pacientes que devemos curar. Temos oito dias de antecipação em relação à Itália, e ainda dá tempo”, alertam os profissionais.

A carta foi encaminhada um dia depois da confirmação da morte do primeiro médico no país, no domingo (22), vitimado pelo coronavírus.   

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