Essencial, serviço funerário reúne servidores experientes, sensíveis e prontos para ajudar


Para que o cidadão curitibano tenha um serviço de qualidade em um dos momentos mais difíceis da vida - a morte de alguém próximo -, uma equipe de 80 servidores da Prefeitura de Curitiba é responsável pelo atendimento no Serviço Funerário Municipal e nos cinco cemitérios municipais (São Francisco de Paula, Santa Cândida, Água Verde, Boqueirão e Zona Sul). 

São servidores experientes e que viram de perto um dos lados mais tristes da pandemia – a morte de muitas pessoas devido à contaminação pelo novo coronavírus. Eles integram o Departamento de Serviços Especiais da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.

“Algumas pessoas vieram aqui duas, três vezes, em um intervalo pequeno de tempo”, comenta o coordenador da equipe de atendimento do serviço funerário, Renato Ortega, servidor de carreira desde os 19 anos de idade e que hoje, aos 33, comanda uma equipe formada por cerca de 28 profissionais que trabalham em regime de escala.

Após oito anos lotado em outra secretaria, Ortega pediu para trabalhar no Serviço Funerário depois de viver uma experiência de morte. “Precisei vir aqui quando meu pai faleceu. 

Eu vi o trabalho da equipe, pedi para ser transferido para cá. Eu achava que poderia ajudar”, revela.

Formado em Psicologia, Ortega afirma que é preciso saber conversar com as pessoas que estão enfrentando momentos difíceis. “E mais: aqui precisamos ter prontidão para resolver, não dá para esperar, fazer depois. A gente tem que resolver rápido”, analisa.

Em 2021, de 1 de janeiro a 30 de setembro, a equipe do serviço funerário realizou 22.332 atendimentos, em uma média de 82 por dia.

“Durante a pandemia, passamos de 26 famílias atendidas a cada 12 horas para 60, 70, até 80 famílias em alguns dias”, relata Pedro Paulo Trevisani, servidor com 37 anos de trabalho na Prefeitura de Curitiba.

“Aqui, estamos ajudando as pessoas, estamos fazendo o bem para alguém. Por isso, é um trabalho que nos orgulha. Mas a gente não pode se envolver”, declara ele, que já viu outros colegas servidores não se adaptarem ao trabalho.

O chefe da Divisão de Cemitérios, Edimar Rosa de Araújo, tem 27 anos de Prefeitura de Curitiba e concorda com Trevisani.

“Quem trabalha aqui, muda o seu olhar em relação à vida, mudam os valores”, assegura. Trevisani e Araújo relatam que as mortes de crianças são as que mais mexem com a equipe.

Com tantos anos de experiência no Município, Araújo já viu a despedida de muitos colegas. “Mas temos que saber lidar, ou a gente não aguenta. E a gente tem família, tem uma vida. Precisamos sair daqui e continuar. Por isso, é preciso separar as coisas”, afirma ele.



Servidores na pandemia

A pandemia trouxe situações atípicas para os profissionais do Serviço Funerário. 

A demanda fez com que servidores fossem realocados para apoiar o atendimento e que fossem estabelecidos novos protocolos de segurança. 

Estas medidas e o trabalho comprometido dos servidores foram essenciais para evitar o colapso do sistema funerário.

Dentre os funcionários realocados para o atendimento estava Cássia Andrade, que integrou a equipe há seis meses e presenciou o período mais crítico da crise sanitária.

“Demorei para me adaptar, e foi um período difícil. Cheguei no atendimento em um momento de muita demanda, e lidávamos com situações complicadas. Lidei com um esgotamento físico e mental, pois aqui presenciamos muitas perdas”, relata ela.

Para superar as dificuldades impostas pela pandemia, os servidores formaram uma rede de solidariedade. Houve funcionários que perderam familiares e precisaram se afastar. 

“Esse suporte foi muito importante para que continuássemos com o trabalho”, descreve Cássia, que também foi contaminada pelo coronavírus.

Mas Cássia faz questão de frisar que gosta do trabalho, e que sente estar fazendo a diferença.

“Com o tempo, eu aprendi a lidar. Contei com o apoio do pessoal também. Mas é impossível não se colocar no lugar de quem está do outro lado da mesa. 

Acho que isso é importante: temos que entender o sofrimento da pessoa que estamos atendendo, não podemos tratá-la como só mais uma. Se perdermos a humanidade, significa que estamos trabalhando errado. É preciso ser sensível”, conclui Cássia.

Roberto Alves da Silva, servidor da Prefeitura há 33 anos, relata que também encontrou dificuldades no início, mas que hoje reconhece o valor e importância de seu trabalho.

“Aqui, temos que ter sensibilidade, pois as pessoas chegam muitas vezes desesperadas, alguns demonstram seu remorso, ou ficam agressivas devido ao que estão passando. Isso aconteceu claramente na pandemia. 

Mesmo assim, gosto do meu trabalho. Costumo dizer que essa é uma situação pela qual nós vamos passar algum dia. Todos nós”, diz Silva.

Trabalho essencial

A diretora do Departamento de Serviços Especiais, Clarissa Grassi Dias, uma estudiosa dos temas relativos à morte, resume: “só entramos em cena quando não tem mais nada a ser feito, mas o trabalho é essencial. O cidadão tem contato com a nossa equipe na pior hora da vida”.

Cabe à Prefeitura, através da Divisão de Serviços Funerários, dar as informações necessárias a cada cidadão, orientar sobre o que fazer, sortear e encaminhar a uma das 25 funerárias, que são concessionárias do serviço, e ainda a fiscalização. 

A Divisão de Cemitérios cuida dos velórios e sepultamentos nos cinco cemitérios municipais. Todo esse atendimento é garantido 24 horas, todos os dias do ano.

Clarissa lembra que mesmo com a pandemia, o serviço foi mantido a todos no funeral e no sepultamento, sejam famílias que têm condições de pagar, sejam aqueles que são carentes ou indigentes.

“Em Curitiba, diferentemente de outras cidades, conseguimos sepultar de forma digna todos os que precisaram. Não faltou atendimento, estrutura, cemitério”, assegura a diretora Clarissa.  

Clarissa enfatiza que muitas vezes o serviço não é reconhecido, mas que é fundamental para a população. “Morte é uma questão de saúde pública”, conclui.


Fonte: SMCS

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