Analistas franceses veem eleição decidida entre “dois candidatos sem programa” para o Brasil

Brasil entra em semana decisiva antes do primeiro turno das eleições presidenciais. Vendedor estende bandeiras na avenida Paulista, em São Paulo. (23/09/2022) AP - Andre Penner


A uma semana do primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, a disputa se encaminha para o enfrentamento de dois candidatos sem programa de governo para o país. 


Em uma mesa redonda promovida pela Rádio França Internacional, especialistas franceses analisaram o pleito, marcado pelo confronto nas urnas entre o atual presidente, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


“Da maneira como compreendemos ser uma democracia liberal tradicional, temos a impressão de que Bolsonaro não tem um programa. Ele tem apenas uma visão do que a sociedade deve ser”, afirmou Juliette Dumont, professora de história contemporânea do Brasil no Instituto de Altos Estudos da América Latina, vinculado à Universidade Sorbonne Nouvelle. 


“Já Lula transmite a ideia de que o seu único projeto é ‘seremos felizes de novo’ e ‘vamos voltar aos anos dourados do começo do século’, mas não tem um programa para o futuro”, constatou a estudiosa, no programa Géopolitique, da RFI.


“Isso é terrível para um país tão importante, a sétima potência mundial, mas que tem eleições nas quais ninguém tem programa a não ser denunciar o que vai acontecer se o outro vencer ou lembrar o que foi feito no passado”, complementa Alain Rouquié, presidente da Maison de l’Amérique Latine, em Paris, e ex-embaixador da França no Brasil.


Crises em série desde o impeachment

Os especialistas ressaltam que, nessas eleições, a aliança que apoia a candidatura petista se esforça, na figura de Lula, para virar a página da crise política deflagrada em 2016, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.


“É um país com crises multiformes e que é uma democracia disfuncional desde antes da eleição de Bolsonaro. Ela aconteceu em 2018 em condições bastante excepcionais, já que Lula foi eliminado judicialmente da eleição”, ressaltou Christophe Ventura, diretor de pesquisas no Instituto de Pesquisas Internacionais e Estratégicas (IRIS), onde é encarregado do programa América Latina. 


“A eleição de Bolsonaro só foi um novo evento dessa crise que corre desde, pelo menos, 2016, com a retirada no mínimo controversa da ex-presidente Dilma Rousseff. Desde então, sem trégua, as instituições brasileiras entram em conflito”, afirmou.


Neste contexto, Lula aparece como o candidato que “tenta construir um campo político que queira reinstaurar uma democracia normal”. “Ao mesmo tempo, Bolsonaro e seus apoiadores consideram que ele tem resultados a apresentar, principalmente nas questões de ordem. Ele mostrou isso recentemente na ONU, falando da segurança, da economia”, salienta Ventura.  


Apoio a Bolsonaro

“Tanto no Brasil, quanto no exterior, minimizamos o fato de que Bolsonaro é o sintoma de algo mais pesado, mais profundo na sociedade brasileira. Esses quatro anos representaram um enfraquecimento da democracia, uma brutalização da política e eu iria até além, diria que ocorreu uma ‘fascização’ da política brasileira”, analisou Juliette Dumont.


A pesquisadora lembrou que, ao ser “grosseiro” no modo de falar, mas defender os valores da família tradicional, Deus e, ao mesmo tempo, aplicar uma política econômica neoliberal, o atual presidente conseguiu conquistar apoio em todas as camadas sociais brasileiras.


“Mas atenção”, observou Rouquier. “Essa política anti-Estado e neoliberal de Bolsonaro não combina com os militares – com quem, aliás, Lula sempre teve boa relação. Os militares da época da ditadura justificavam a permanência no poder com o argumento de que tinham um projeto nacional para o país, e Bolsonaro não tem projeto nacional”, frisa. “Isso é muito importante nas relações entre os dois candidatos com os militares”, destacou.


Texto por: RFI

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