Estudo mostra que distância entre discurso e prática deixa mulheres à margem do mercado de TI

Empresas afirmam disposição em promover igualdade de gênero, no entanto, a ausência de medidas mais concretas ou de instrumentos mais eficazes ainda são entraves para uma maior inclusão

Uma pesquisa promovida pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação do Paraná (Assespro-PR), Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação mostra que apenas 17% das empresas de tecnologia dispõem de algum programa de promoção da diversidade, o que facilitaria o ingresso de mulheres nesse mercado de trabalho.

Em contrapartida, o levantamento, feito pela Realize Hub com 72 empresas do Paraná, revela que 77% das empresas de tecnologia da informação (TI) têm interesse em aumentar o quadro de mulheres em seus times.

“Poucas empresas têm ações concretas para alcançar o objetivo de proporcionar maior presença feminina no setor de TI. Ou seja, existe um ‘gap’ importante entre o discurso e a prática. Por isso, programas de diversidade e abertura de vagas exclusivas são iniciativas de fato necessárias. Afinal, é por meio dessas ações que teremos uma mudança efetiva no cenário atual”, declara a diretora adjunta de Mulheres na Tecnologia, da Assespro-PR, Ana Lucia Bittencourt Starepravo.

Foto: Ana Lucia Bittencourt Starepravo

Alguns dados trazidos pelo estudo ilustram a ausência de uma inclusão mais efetiva. A pesquisa constatou que nem um terço delas (29%) conta com participação societária de mulheres. Mais da metade (53%) não tem mulheres integrando conselhos administrativos.

A diretora da Assespro-PR alerta: “A participação das mulheres nos quadros societários, nos últimos cinco anos, está diminuindo e a dos homens aumentando. É um movimento que indica uma tendência de aumentar a disparidade, reduzindo ainda mais essa participação”.

É bem verdade que as empresas alegam obstáculos para contratar mulheres. Quase metade (48%) expressa argumentos relacionados a dificuldades para encontrar profissionais femininas: 24% das empresas relatam falta de candidatas, 15% dificuldade de capacitação e 9% não encontram candidatas. A não contratação por machismo, por sua vez, é a razão apontada por 7,5%.

Para Ana Lucia, os entraves atribuídos pelas empresas decorrem, na verdade, do uso inadequado de ferramentas de busca e contratação. “As próprias organizações reconhecem essa inabilidade: segundo a pesquisa, praticamente 37% das empresas não sabem informar onde encontrar mulheres qualificadas”, assinala a diretora da Assespro-PR.

Embora alguns empregadores aleguem dificuldade em encontrar candidatas que atendam às qualificações das vagas, o estudo constatou que praticamente nove em cada dez possuem curso superior ou especialização em nível de pós-graduação.

A pesquisa traz, ainda, depoimentos de profissionais. Ao todo, foram 256 mulheres entrevistadas. São testemunhos que personificam o que os indicadores estatísticos apontam. Uma delas, por exemplo, afirma considerar o mercado “ainda muito machista”, e acrescenta: “Mulheres ainda são tratadas com inferioridade em suas funções; diversas fazem mais de uma função na empresa e recebem apenas por uma”.

O enfrentamento dos problemas diagnosticados pede ação, sublinha o presidente da Assespro-PR, Lucas Ribeiro. A entidade criou, no começo do ano passado, o Conselho Consultivo de Mulheres em Tecnologia. O grupo reúne integrantes não só da Assespro-PR, como de outros segmentos do ecossistema de inovação.

“O ‘Conselho’ foi oficialmente constituído em março de 2021. Elaborou um planejamento estratégico de ações, e o próprio estudo [denominado “As mulheres no mercado de tecnologia no Paraná] é fruto do trabalho desse grupo”, explica Ribeiro. Para além do diagnóstico, o propósito é fomentar e auxiliar o desenvolvimento e a aplicação de medidas efetivas na mudança do cenário.

“O estudo busca promover ‘insights’ para empresas, profissionais e instituições de ensino sobre os fatores que dificultam e incentivam a participação das mulheres no setor de tecnologia em todos os níveis”, assinala Lucas Ribeiro.

“Essa diferença entre homens e mulheres no universo de TI talvez persista porque ainda exista o descrédito de que o setor é para homens, mas essa ideia é totalmente retrógrada. A área de TI existe para qualquer pessoa que tenha disposição e interesse em se desenvolver na área. E para que isso ocorra, movimentos estão sendo realizados com o objetivo de apoiar e conectar as empresas de tecnologia aos programas de formação de mulheres na área. Este é o primeiro passo para a mudança”, completa Cris Alessi, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação.

OUTRAS INFORMAÇÕES

Além dos dados citados, o estudo apresenta indicadores e vários outros itens, como idade, etnia, estado civil, maternidade, renda, perspectivas de ascensão na carreira, entre outros. O estudo pode ser conferido na íntegra em: https://assespropr.org.br/mulheres-na-tecnologia/.


 


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